Martinho Costa cruza-se com o
Barreiro antes mesmo de a Estação Sul e Sueste lhe fazer o convite a estar em residência
pelo Barreiro, integrando as 12 exposições de Terminal B.
O artista recolheu, nas diversas
visitas à cidade, um conjunto de imagens, compondo um arquivo visual
actualizado do território e da paisagem. “Thumbnails”
apresenta-se como uma série de pinturas a óleo sobre tijolos de 20x30x7, tendo
como referencia as imagens recolhidas.
É visível uma forte relação com
as noções clássicas da pintura, mas ao invés de nos apresentar o convencional
enquadramento da paisagem bucólica e idílica, Martinho mostra-nos acções
quotidianas. Os seus trabalhos são pedaços claros de uma narrativa congelada. Enquadramentos
e composições reconhecíveis que o mesmo, através da paleta de cores cuidada e
do alinhamento das composições transmite a noção de lugares de refrigério.
Explora fragmentos de uma cidade pontuada pelo processo industrial, em processo
inverso, de abandono e transformação.
Outro aspecto que se destaca do
seu modo de fazer é o suporte. Martinho Costa transporta para o espaço
expositivo peças não convencionais. Estes objectos são a base da sua pintura,
que descontextualizados dos lugares adquirem um novo interesse estético.
“Quatro Cortinas” é a proposta do
artista para a ocupação da janela de Terminal B. Apresenta quatro imagens
pintadas sobre cortinas blackout que confundem e abordam a dicotomia
interior/exterior. Trocadas ao longo de quatro semanas reflectem no espaço públicos
pedaços da mesma paisagem.
A cortina assume-se como objecto
charneira desvelando a percepção que temos da vista do interior para o exterior
e vice-versa. Fechamos as cortinas para nos resguardarmos de olhares
indiscretos, procurando intimidade ou somente cobrir a luz solar. O rolo
desenrola-se ao exterior dando-nos a paisagem - olhar para dentro vendo o que
está de fora. O espaço público adquire a forma de lugar interior e, à vista de
quem passa a paisagem é emoldurada e sensivelmente enquadrada na janela.
Reforçado pela troca semanal do
objecto, o que contemplamos é sempre diferente, como se aquele largo junto da
entrada do Mercado viaja-se para um novo ponto da cidade, nunca deixando de ser
um pouco o espaço abrigo da casa que habitamos.
“Quatro Cortinas” é uma exposição
itinerante que está insitu e aborda a
janela como uma abertura para o mundo.